O cirurgião bariátrico Cid Pitombo reflete sobre alimentação, movimento, ganho e perda de peso. Ter um bom técnico ajuda a vencer o excesso de peso, como um torcedor de si mesmo, com empenho e apoio psicológico.
Em uma sociedade que valoriza o corpo magro e a aparência, a obesidade se tornou um tabu, um tema delicado que muitas vezes é evitado em conversas informais. Mas, assim como o filme A Baleia, que narra a história de um professor com 270 kg em busca de redenção e cujo título não pretende desmerecer quem convive com a obesidade, meu texto se vale de uma metáfora para raciocinarmos juntos o que precisa ser considerado no tratamento do excesso de peso, levando em conta a complexidade da questão.
A obesidade não é apenas um problema de autocontrole ou uma questão de gula; é uma doença crônica que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. O excesso de peso, que é um dos principais fatores de risco para a obesidade, pode ser causado por uma combinação de fatores, incluindo a genética, o estilo de vida e a exposição a certos medicamentos. Além disso, a obesidade pode levar a uma série de complicações de saúde, como diabetes, hipertensão e doenças cardíacas. Portanto, é fundamental abordar o tratamento do excesso de peso de uma forma multidisciplinar, envolvendo mudanças na alimentação, no exercício e na gestão do estresse, além da supervisão de profissionais de saúde. Aprender a gerenciar o excesso de peso é um processo contínuo e demanda comprometimento e paciência.
Um Esporte que Encanta
A corrida contra a obesidade pode ser vista como um esporte que mexe com as emoções, move paixões e nos torna fiéis e confiantes a cada pequeno avanço. Imagine o sentimento de ser um torcedor de um time de futebol que não conquista nada há anos, mas que, com um trabalho árduo e persistente, finalmente levanta o troféu após amargar tantas derrotas. Algo semelhante pode acontecer na luta contra a obesidade, onde o paciente pode se sentir como torcedor de si mesmo, mas que perdeu a motivação e acredita que o emagrecimento seja um objetivo distante.
Desmotivação e o Procurar Não Ser Rebaixado
Às vezes, o paciente fica desmotivado e acha que o emagrecimento é um objetivo distante, e a vontade de desistir supera a de insistir. Incompreendidas, essas pessoas já não pensam mais no troféu – sua saúde –, mas em não serem rebaixadas, sofrendo com estigmas e doenças. No entanto, o importante é que a bola não pare, e que o paciente seja torcedor de si mesmo, não apenas do seu time de coração.
As Disputas Diárias
As disputas na luta contra a obesidade serão diárias, difíceis, por vezes com prorrogação, cartões e pênaltis. Mudanças acontecerão – no tratamento e inclusive de médico –, mas a vontade de vencer não pode sucumbir. O campeonato não é apenas contra a obesidade, mas também contra o próprio medo de ser rejeitado e julgado. Campeonato Brasileiro, Liga dos Campeões, Libertadores, Mundial, Copa do Mundo: nada é conquistado com falta de determinação, empenho, dedicação, preparo, dieta e apoio psicológico. Isso vale para atletas jovens e de alto rendimento, e também para quem enfrenta a obesidade.
O Caminho Árduo
Cuidando dos jogadores do time da obesidade há quase 30 anos, sei quanto é difícil convencê-los de que ganharão a partida e de que não há outra opção a não ser jogar. Ficar no banco não é a melhor decisão, assim como os zagueiros existem para proteger a última linha de defesa antes do goleiro e podem ser uma pedra na chuteira do adversário, os componentes fisiológicos e psicológicos também podem dificultar a partida para os pacientes.
A Equipe Completa
O que importa é que, junto ao técnico, a partida seja bem jogada e que perseveremos com resiliência. Do contrário, a maca ou o vestiário nos aguarda. No nosso caso, melhor dizendo, o hospital. Como no esporte, o ideal é que o paciente tenha uma equipe completa, experiente e bem qualificada, composta de médicos, nutricionistas, psicólogos, preparadores físicos… Terá que fazer exames para diagnosticar sua aptidão para o jogo e depois será decidido por qual campo seguirá: o clínico ou o cirúrgico.
O Campeonato Longo
O campeonato, em ambos os casos, é longo. Existirão dias de vitórias e outros de derrotas. Pode ser que ele não vença naquele ano, mas a bola continuará em campo e a saúde estará em jogo. O futebol tem esse encanto da esperança, de se jogar até o fim. Na obesidade é a mesma coisa: como doença crônica, o jogo pode seguir uma vida toda, mas vale a pena jogá-lo. Com suporte médico e dedicação, as chances de vencer são enormes.
Fonte: @ Veja Abril
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