País líder em medalhas olímpicas, treina com repetições intensas. “Não é como jogar bola”, diz antropóloga finlandesa.
É comum ver a China se destacando em competições esportivas internacionais, e a educação física tem um papel fundamental nesse cenário. Em Paris, os atletas chineses conquistaram 40 medalhas de ouro, 27 de prata e 24 de bronze, mostrando a importância do investimento na prática esportiva desde cedo.
A prática de educação física nas escolas é essencial para formar novos talentos e promover um estilo de vida saudável. As aulas de educação física ajudam os alunos a desenvolver habilidades motoras, promovem a socialização e contribuem para a melhoria da saúde física e mental. É fundamental incentivar a participação dos jovens em atividades esportivas, garantindo um futuro mais ativo e equilibrado.
Explorando a Educação Física na China
A apresentação das meninas chinesas do nado sincronizado, por exemplo, de uma perfeição que impressionou os técnicos (e o mundo) na última semana da competição, fez com que brasileiros buscassem uma explicação para a habilidade das atletas: ‘devem ter aula de educação física desde os 2 anos!’. Será?
O g1 foi atrás da resposta e descobriu que, de fato, o modo como o governo e as escolas da China encaram a prática de esportes é bem diferente dos nossos padrões. Dizer que os bebês começam a se exercitar aos 2 anos é exagero, mas tenha certeza de que a vida das crianças não é, digamos, fácil.
Normalmente, as aulas de educação física são realizadas com os alunos em filas. Não é como se corressem para o campo e começassem a jogar bola’, explica ao g1 a antropóloga finlandesa Anni Elisa Kajanus, que estuda questões sociais da China na Universidade de Helsinque. Abaixo, veja um resumo das principais características da educação física chinesa:
🔁De novo e de novo. ‘A repetição é muito importante, porque os chineses acreditam que atividades assim criam uma pessoa virtuosa e ética, explica a pesquisadora. Pular corda mil vezes e filmar, por exemplo, pode ser a lição de casa das crianças, como conta o atleta brasileiro Mateus Martins, que desenvolve um projeto esportivo na China há quase 20 anos [leia mais abaixo].
🏀Uma etapa por vez. Normalmente, nas escolas chinesas, cada exercício é ensinado em três fases diferentes e independentes. No Brasil, aprendemos a pular corda… pulando corda, certo? Lá, há outra abordagem pedagógica. Primeiro, o aluno aprende a rotacionar a mão, sem segurar nada. Só depois, pulará no chão. E, por último, na etapa 3, juntará tudo e efetivamente tentará pular a corda. ‘É sempre assim: uma atividade mais simples para depois construir uma mais complexa. Na Europa, agimos diferente: nossa ideia é dar a compreensão do todo, do jogo completo, para incentivar que a criança entenda como tudo se conecta’, afirma Kajanus.
🧑🏫Professor como instrutor sempre presente. Nas escolas chinesas, docentes são muito respeitados pelos estudantes – não há problemas de indisciplina. E o papel deles não é apenas demonstrar conhecimento, mas também dar conselhos e instruções detalhadas à turma. ‘Se o professor der uma bola para as crianças e disser ‘ok, nos vemos em 20 minutos’, isso vai ser visto como pouco profissional, como se ele não se importasse [com as crianças]’, analisa a pesquisadora da Finlândia.
🚶♂️🚶♂️Marchando desde pequenos. Os esportes tornaram-se mais populares na China a partir da década de 1950, por iniciativa do Partido Comunista. Naquela época, a educação física das massas era vista como uma forma de preparação para a guerra. ‘Até hoje, as práticas militarizadas ficam muito evidentes. Os professores comentam que precisam ensinar primeiro os conceitos básicos, como marchar ao ritmo da música, para que tenham o controle das crianças pequenas. Só depois que elas passam a praticar esportes’, afirma Kajanus.
⌚Rigidez máxima. Não há
Uma Abordagem Diferente para a Educação Física
dúvidas de que a educação física na China segue um caminho peculiar. A ênfase na repetição e na progressão gradual de habilidades destaca-se como um dos pilares desse sistema. Enquanto no Brasil as aulas de educação física muitas vezes são mais informais, na China, a abordagem é estruturada e metódica.
A repetição é um elemento-chave no processo de aprendizagem dos alunos chineses. A crença de que a prática constante leva à virtude e à ética permeia as aulas de educação física. Atividades como pular corda são realizadas repetidamente, com o objetivo de aprimorar as habilidades motoras e a disciplina dos estudantes.
A progressão por etapas também é uma característica marcante do sistema de educação física chinês. Cada exercício é dividido em fases distintas, permitindo que os alunos dominem cada aspecto antes de avançar para o próximo. Essa abordagem detalhada e progressiva contrasta com a prática mais direta e imediata comum em outros países.
Os professores desempenham um papel fundamental como instrutores e mentores na educação física chinesa. São respeitados pelos alunos e sua presença constante é valorizada. Além de transmitir conhecimento, os professores oferecem orientações detalhadas e conselhos aos estudantes, garantindo que cada um atinja seu potencial máximo.
A tradição de marchar desde pequenos reflete a importância histórica atribuída à educação física na China. Iniciada como uma preparação para a guerra, a prática esportiva tornou-se parte integrante da cultura e da formação dos cidadãos chineses. A rigidez e a disciplina são valores fundamentais que permeiam as aulas de educação física, moldando não apenas o corpo, mas também o caráter dos jovens atletas.
Em resumo, a educação física na China é um reflexo da abordagem sistemática e disciplinada do país em relação ao ensino e à formação de seus cidadãos. A ênfase na repetição, na progressão por etapas e no papel dos professores como mentores destaca-se como elementos-chave desse sistema único, que continua a inspirar e intrigar observadores de todo o mundo.
Fonte: © G1 – Globo Mundo
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