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O espetáculo Devoção se transformou em uma novidade ao ar livre, onde artistas contracenavam emocionados em pedra sabão.
As cadeiras de plástico se converteram em assentos para apreciar a novidade. Não se tratava de um teatro, e o vento soprava na praça onde Maria Conceição Fabri, de 73 anos, realiza sua rotina vendendo água de coco durante o dia. A ópera estava prestes a começar, trazendo um toque de sofisticação ao ar livre.
Enquanto o sol se punha no horizonte, a performance lírica dos cantores encantava a plateia improvisada. A ópera ao ar livre se tornava um espetáculo inesquecível, unindo a beleza da música com a simplicidade do cotidiano. A apresentação vocal emocionava a todos, transformando a praça em um verdadeiro palco de emoções.
Ópera Devoção: Uma Experiência Inesquecível em Congonhas
Diante do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, na histórica Congonhas (MG), a 80 quilômetros de Belo Horizonte, Conceição ficou encantada ao assistir a um espetáculo de ópera pela primeira vez na vida. A novidade de presenciar uma apresentação lírica ao ar livre transformou-se em uma experiência marcante para a moradora local.
O espetáculo Devoção encenava, ao ar livre, na noite do último sábado (13), a saga do português Feliciano Mendes que, em pagamento a uma promessa, construiu a igreja com a venda de ouro e doações que conseguiu na cidade. A performance dos artistas contracenavam com os 12 profetas esculpidos em pedra sabão por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, no lugar que é patrimônio cultural da humanidade.
Maria Conceição e Maria Cristina aproveitaram a praça cheia para conferir a Ópera Devoção e vender quitutes na praça. Emocionada com o espetáculo, Conceição não descuidava do seu ouro de todo dia: ‘oi família! Bora comprar água de coco?’. ‘A gente sabe a história daqui da igreja, e do Feliciano Mendes, mas desse jeito fica até mais bonito’, diz a comerciante, que já foi doméstica, cozinheira e se aposentou.
Ao lado dela, a aposentada Maria Cristina Assis, de 77, também ficou emocionada porque se lembrou da própria história, ao pagar promessas para ter saúde. Ouviu do tenor: ‘foi uma longa jornada…’ e reagiu: ‘foi mesmo. A minha jornada, também’. ‘Que vozeirão o dele. Essas luzes ficam tão bem! Como ele lembra dessa música tão longa? É a nossa história’.
Coro Maria Cristina sonhou em ser professora, mas precisou parar o curso de magistério. Precisava cuidar da família. ‘Tive 21 filhos, mas perdi oito. Já paguei promessa para melhorar de saúde. Casei nova, mas nunca fui feliz no casamento. Nunca tive tempo de sonhar nada’. Ela não teve ‘qualquer ouro’ para pagar a promessa, vive da aposentadoria por invalidez e reza todos os dias no santuário que era o cenário da ópera.
Vivo com uma filha que é mãe solteira e penso como ajudar 12 netos e seis bisnetos. Tenho vários problemas de saúde e sempre recorro ao Bom Jesus. Ela lembra que a mãe dela também orava por saúde. ‘O que nós temos para doar é a fé. A única coisa que a gente tinha era minhas roupas’. A aposentada Maria Cristina recorre ao Bom Jesus como um dia pediu socorro o português Feliciano Mendes, nascido em 1726, tema da ópera que os congonhenses assistiram no último sábado.
Segundo a biografia publicada pelo escritor e pesquisador mineiro Domingos da Costa, o homem tinha formação de pedreiro e era filho de família humilde no povoado de Santa Maria de Gêmeos, no norte português. Ao ter conhecimento do ouro que havia do outro lado do Atlântico, o rapaz conseguiu chegar ao Rio de Janeiro e depois em Minas Gerais. ‘A atividade no garimpo deixou ele gravemente enfermo. Foi quando resolveu fazer a promessa ao Bom Jesus de Matosinhos de construir a igreja’, disse o escritor à Agência Brasil.
Ópera Devoção: Uma Celebração Cultural em Congonhas
A obra de Domingos da Costa, Congonhas: da fé de Feliciano à genialidade de…
Fonte: @ Agencia Brasil
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