A fragmentação reduziria a força do G20 para pautar a agenda internacional, mas pode piorar com a Argentina lançando moda.
A cúpula do G20 no Rio de Janeiro, realizada em 18 e 19 de novembro, foi registrada como o último encontro do grupo antes do início do mandato de Donald Trump e o declínio do multilateralismo em 2017. O evento contou com a presença de cúpulas de líderes mundiais, incluindo representantes do Brasil, Alemanha, Estados Unidos, Reino Unido, França, Índia, China, Japão e outros países, todos reunidos para discutir questões globais.
Em sua análise política, muitos especialistas atribuem o declínio do multilateralismo ao contexto político da época, especialmente após a eleição de Donald Trump em 2016. Esteve em seu primeiro mandato de 2017 a 2021, durante o qual empenhou-se em minar a legitimidade do G20 e fortalecer arranjos bilaterais, afirmando que o multilateralismo não era mais a forma mais eficaz de resolver problemas mundiais.
Reinventando a regra do multilateralismo
O multilateralismo foi o grande perdedor na posse de Donald Trump em 2017, que inaugurou um mandato marcado pela recusa de comprometer com o mundo. De lá para cá, os EUA não conseguiram impor sua vontade em dezenas de cúpulas internacionais e, em alguns casos, nem sequer confluíam com os demais países.
Em três dos quatro anos em que o republicano participou do G20, os Estados Unidos foram inflexíveis e a cúpula terminou sem consenso. Os líderes tiveram de fazer uma declaração no modelo 19 + 1. Para que o acordo entre a liderança da União Europeia e o resto dos países se realizasse, um dos últimos fios que mantinham a esperança de evitar o desastre era o fato de os Grupos do Clima de Paris de 2015 terem sido assinados por todos os países. O problema era que os EUA exigiam um parágrafo à parte, de dissenso, que começava dizendo que os EUA ‘reiteravam’ sua decisão de se retirar do Acordo de Paris porque ele ‘prejudicava os trabalhadores e contribuintes americanos’.
Na cúpula de 2019, Trump chegou a fazer uma tentativa de rachar o G20. Ele pressionou o Brasil (então sob seu aliado Jair Bolsonaro), Turquia e Arábia Saudita a se juntarem aos EUA no rechaço ao Acordo do Clima, o que inviabilizaria uma declaração final do grupo. Com um trabalho de convencimento do presidente francês, Emmanuel Macron, que se recusava a assinar uma declaração sem compromisso climático, esses líderes acabaram apoiando o texto.
No segundo mandato, espera-se um Trump ainda mais refratário a arranjos multilaterais e fortalecido para cooptar outros países. A dissidência da Argentina neste ano em temas como gênero, taxação de bilionários e agenda 2030 seria um indício de que, a partir do ano que vem, o G20 pode voltar a seu modelo sem consenso, desta vez com EUA e Argentina impedindo acordo.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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