Contenção orçamentária surpreendeu negativamente com corte de despesas discricionárias, podendo piorar reação do mercado, afetando esforço fiscal e ajuste de juros na política monetária.
A revisão bimestral do orçamento para 2024 apresentada recentemente pelo governo trouxe uma surpresa desagradável para os economistas, que agora esperam uma pressão sobre os ativos domésticos no início da próxima semana. Essa revisão pode ter um impacto significativo na economia do país, afetando diretamente a confiança dos investidores.
A administração do orçamento é uma tarefa complexa que envolve a tomada de decisões estratégicas por parte das autoridades responsáveis. Nesse sentido, o poder executivo desempenha um papel fundamental na gestão dos recursos públicos e na definição das prioridades orçamentárias. A revisão bimestral do orçamento para 2024 é um exemplo disso, e o governo deve estar preparado para lidar com as consequências de suas decisões. A transparência e a responsabilidade são fundamentais nesse processo.
Avaliação do Governo e a Contenção Orçamentária
A avaliação geral é que o governo avançou na estimação de algumas receitas e despesas, e a meta de resultado primário deste ano ainda está ao alcance, mas perdeu a oportunidade de realizar um bloqueio maior de despesas que tornasse a projeção de gastos mais crível. Isso deixou uma impressão de piora entre analistas e deve exigir um bloqueio mais forte no último relatório do ano, previsto para 22 de novembro.
A economista Andrea Damico, fundadora e CEO da Buysidebrazil, afirma que ‘tem alguns pontos mais construtivos, mas, no geral, liquidamente, a surpresa foi um pouco pior’. A contenção orçamentária total (bloqueio e contingenciamento) caiu de R$ 15 bilhões anunciados em julho para R$ 13,3 bilhões agora. O bloqueio é realizado quando despesas obrigatórias sobem mais do que o estimado pelo governo, e ele precisa cortar despesas discricionárias (não obrigatórias) para compensar.
Expectativas e Realidade
A expectativa dos economistas era de um bloqueio adicional em torno de R$ 5 bilhões, mas o governo anunciou R$ 2,1 bilhões. Para o contingenciamento, embora economistas não esperassem restrição adicional, já que as receitas performam bem, também não previam que os R$ 3,8 bilhões de julho fossem convertidos em zero. Como o bloqueio adicional foi inferior à reversão do contingenciamento, o ‘esforço fiscal’ total para 2024 foi afrouxado em R$ 1,7 bilhão, enquanto economistas e agentes do mercado financeiro esperavam um aumento entre R$ 5 bilhões e R$ 10 bilhões.
O Santander, por exemplo, esperava um bloqueio de R$ 5 bilhões que, somado à contenção de R$ 15 bilhões de julho, levaria a R$ 20 bilhões no total. Rai Chicoli, economista-chefe da Citrino Gestão de Recursos, afirma que ‘o bloqueio foi abaixo do esperado (R$ 5 bilhões), sendo que essa perspectiva já era considerando que o governo não faria o necessário (R$ 10 bilhões)’.
Reação do Mercado e Política Monetária
Sobre o contingenciamento, Chicoli diz acreditar que o governo ‘deveria ter sido mais conservador’ e, pelo menos, deixado o valor previsto. ‘Reverter o contingenciamento em um momento em que as despesas ainda não estão devidamente ajustadas e a economia se mostra forte, enquanto o ciclo de ajuste de juros está apenas começando, revela uma baixa sensibilidade do planejador diante de uma economia desequilibrada. O fiscal continua expansionista, enquanto a política monetária tenta contrair’, afirma Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital.
Nos últimos dias, ela observa, os mercados locais já reagiram negativamente, inclusive antecipando uma contenção orçamentária menor. Ontem, a perspectiva de uma Selic mais elevada à frente e as preocupações do mercado em torno do fiscal levaram a um amplo aumento dos prêmios de risco, refletidos ao longo de toda a curva de juros. ‘A reação na segunda-feira deverá ser ainda mais negativa’, afirma Nogueira.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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