ouça este conteúdo
Brasileiros buscam produtos em boas condições em caçambas, viram referência em vídeos e têm chance de encontrar youtuber.
A fila dava volta no Parque do Ibirapuera, área nobre de São Paulo, em uma tarde de julho. Depois de minutos de espera, algumas pessoas choravam de emoção pela chance de encontrar a youtuber brasileira Adeline Camargo, que mora nos Estados Unidos e virou uma referência em vídeos de lixo.
Enquanto isso, a conscientização sobre a importância da separação de resíduos cresce na cidade. A coleta seletiva de detritos tem sido fundamental para reduzir a quantidade de rejeitos enviados para aterros sanitários.
Lixo, Resíduos e Detritos: A Busca por Produtos em Boas Condições
A expressão em inglês significa ‘mergulhar na lixeira’ — e quer dizer isso mesmo: pessoas que entram e vasculham caçambas de lixo em busca por produtos em boas condições e até novos que são descartados pelos americanos. Sei que muita gente quer uma lembrancinha do dumpster, registra no vídeo Adeline, que trouxe para o encontro no Brasil dezenas de produtos que ela encontrou assim para sortear entre os seguidores. São maquiagens, bolsas, objetos de decoração… O encontro em São Paulo reflete o fenômeno entre brasileiros ávidos por vídeos sobre o lixo dos Estados Unidos.
São dezenas de canais no YouTube e perfis no Instagram, alguns de famílias inteiras, que mostram essa prática comum no país. ‘Os brasileiros ficam muito curiosos, porque os americanos esbanjam muita coisa, é um desperdício que te deixa alucinado. Tem muita coisa nova’, diz Alessandra Gomes, capixaba que também se filma ‘mergulhando’ no lixo, no Estado de Massachusetts. Ela já recolheu edredons, sofás, mesas e muita comida. Ligação, áudio ou texto? As regras de etiqueta para conversas por WhatsApp no trabalho Nos Estados Unidos, de forma geral, a atividade não é ilegal, mas navega em uma zona cinzenta.
Em 1988, no caso que ficou conhecido como California contra Greenwood, a Suprema Corte do país decidiu que não há ‘privacidade’ no lixo deixado na calçada. Mas regras específicas em Estados e cidades sobre a questão das lixeiras podem se sobrepor. A atividade, por exemplo, pode ser considerada ilegal se envolver invasão de propriedade privada, se houver alguma placa indicando que é proibido mexer ou a lixeira estiver fechada com algum cadeado. Entrar nessas áreas sem permissão pode resultar em acusações de invasão. Também pode haver denúncias sobre incômodo público ou risco à segurança na atividade.
Nos vídeos gravados pelos brasileiros, em geral, não é possível saber se eles invadiram propriedades ou se desrespeitaram proibições. Ao menos uma destas pessoas disse à BBC News Brasil que já foi detida pela polícia após uma loja denunciá-la e precisou pagar fiança e passar por uma audiência na Justiça. Vídeos que mostram os brasileiros sendo ‘pegos no flagra’ acumulam muita audiência — na maioria, são funcionários de lojas que pedem para eles saírem ou simplesmente permitem que continuem. Quem são os 12 filhos de Elon Musk ‘Já fui flagrado pela polícia algumas vezes’, diz André da Silva, de 49 anos, que se mudou do Rio de Janeiro para Rhode Island há 23 anos e hoje tem mais de 300 mil seguidores apenas no Facebook com seus vídeos. ‘Mas, em geral, só perguntam o que estou fazendo, e eu explico que gravo vídeos. Eles ficam até chocados com as coisas que encontramos.’ Apesar do fenômeno recente nas redes sociais em países como Brasil ou El Salvador, a atividade faz parte da rotina de americanos há décadas, explica Jeff Ferrell, sociólogo e professor emérito da Universidade Cristã do Texas (TCU, na sigla em inglês) que, há 50 anos, se debruça sobre o fenômeno — seja como pesquisador ou
Chance de Encontrar um Youtuber na Fila do Lixo
defensor dessa prática. A busca por produtos descartados, considerados lixo, resíduos ou detritos por alguns, ganhou popularidade com a disseminação de vídeos em que pessoas encontram verdadeiros tesouros nos dumpsters. A referência em vídeos de brasileiros mergulhando no lixo dos Estados Unidos tem despertado o interesse de muitos, que veem nessa atividade uma forma de encontrar produtos em boas condições que foram descartados.
A prática, que dá volta nas regras tradicionais de consumo, tem atraído um público ávido por referências de consumo alternativas. Os vídeos mostram desde maquiagens até móveis sendo resgatados do lixo, alimentando a curiosidade de quem assiste. A chance de encontrar um youtuber nessa fila do lixo é real, como demonstram os relatos de Adeline e Alessandra, que compartilham suas descobertas com os seguidores.
Apesar da controvérsia em torno da legalidade da atividade, os entusiastas do dumpster diving continuam a explorar essa prática, muitas vezes desafiando as normas estabelecidas. A presença de brasileiros nesse cenário, mostrando em vídeos suas incursões nos dumpsters americanos, tem gerado debates sobre ética, privacidade e desperdício. Enquanto alguns veem no dumpster diving uma forma de reaproveitamento e conscientização ambiental, outros questionam seus limites e consequências legais.
A busca por produtos em boas condições no lixo, seja por curiosidade, necessidade ou simplesmente por diversão, revela uma faceta pouco explorada do consumo contemporâneo. Os dumpsters se tornaram verdadeiros tesouros para aqueles dispostos a vasculhar entre detritos e rejeitos em busca de algo que valha a pena resgatar. A prática, cada vez mais difundida nas redes sociais, mostra que o conceito de ‘lixo’ pode ser relativo e que, muitas vezes, o que é descartado por uns pode se tornar um achado valioso para outros.
Fonte: © G1 – Tecnologia
Comentários sobre este artigo