Tallis Gomes afronta 30 milhões de lares chefiados por mulheres, que assumem papéis duplos após abandono, enfrentando desarranjos financeiros e diferença salarial de gênero na jornada de trabalho, pagando o preço da fama e da reputação.
No mundo dos negócios, a presença da mulher é cada vez mais marcante, mas ainda enfrentamos obstáculos e preconceitos. A fala do empresário Tallis Gomes é um exemplo disso. Em seu post no Instagram, ele expressou uma opinião misógina que gerou grande repercussão negativa e consequências. Sua declaração, “Deus me livre de mulher CEO“, foi um golpe duro para as mulheres que lutam por igualdade e respeito no mercado de trabalho.
É importante lembrar que a mulher, representante do gênero feminino, tem o direito de ocupar qualquer cargo, incluindo o de CEO. A fêmea, com sua força e determinação, tem conquistado espaços e superado barreiras ao longo da história. A igualdade de gênero é um direito fundamental e não podemos permitir que opiniões misóginas como a de Tallis Gomes nos detenham. É hora de valorizar a contribuição feminina em todos os setores da sociedade.
A Mulher e o Preço da Fama
A recente declaração de Tallis Gomes sobre a jornada de trabalho e o papel da mulher na sociedade gerou uma grande controvérsia. Isso me lembra do texto que escrevi duas semanas atrás sobre o preço da fama e o valor da reputação. Alguns indivíduos buscam a fama ofendendo minorias e gerando ira na maioria. Foi exatamente o que aconteceu com Tallis Gomes.
Apesar de não ser a primeira vez que ele expressou opiniões duvidosas em público, a repercussão de sua fala desastrosa foi imediata, gerando críticas de importantes líderes empresariais, como Luiza Helena Trajano e Tarciana Medeiros, do Banco do Brasil, além de outras mulheres influentes de diversos segmentos. Até mesmo ex-alunas da G4, empresa de educação sobre liderança da qual Tallis é sócio, expressaram arrependimento por terem investido em cursos oferecidos por ele.
O empresário tentou se retratar posteriormente, afirmando que suas palavras foram mal interpretadas. No entanto, o estrago já estava feito e o pedido de desculpas teve efeito rebote, como a gota d’água que faltava para romper o dique de contenção da tolerância alheia.
Ele já havia enaltecido a jornada de trabalho de 80 horas semanais em um tempo em que as pessoas estão adoecendo mentalmente. O afastamento do trabalho devido a problemas de saúde mental tem aumentado de forma significativa nos últimos anos, tanto no Brasil quanto no resto do mundo. Dados de 2023 do Ministério da Previdência apontam que cerca de 30% dos afastamentos concedidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) estão relacionados a transtornos mentais e comportamentais, incluindo depressão, ansiedade e síndrome de burnout.
A Luta da Mulher e a Diferença Salarial de Gênero
Desarranjos financeiros e longas jornadas são parte do problema. Ao falar que a mulher ‘vai passar por um processo de masculinização que invariavelmente vai colocar o lar em quarto plano, o marido em terceiro plano e os filhos em segundo plano’, Tallis Gomes afronta 30 milhões de domicílios brasileiros chefiados por mulheres. São mulheres que não apenas fazem o papel delas, como também o dos homens que abandonaram a família, deixando-as em carreira solo. Mulheres essas, aliás, que têm os filhos como seu primeiríssimo plano.
Sua declaração desconsidera a luta de décadas por igualdade de direitos, oportunidades e de remuneração. No Brasil, a diferença salarial de gênero é nada desprezível. Que pese o fato de ter melhorado nos últimos anos, dados de 2023 mostram que as mulheres brasileiras ganham, em média, cerca de 22% a menos do que os homens na mesma função, segundo a Women Business Collaborative. Essa desigualdade é ainda mais acentuada para mulheres negras e pardas, que enfrentam uma dupla discriminação, recebendo até 50% menos do que homens brancos em alguns setores.
Uma coisa Tallis Gomes tem razão em seu comentário, sejamos justas. Tem de ser cascuda mesmo para ser uma CEO. Apenas 5% das empresas brasileiras são lideradas por mulheres. Esse dado reflete uma realidade similar à de muitos países, onde as mulheres enfrentam barreiras significativas para alcançar os cargos mais altos da hierarquia. Haja casco!
Fonte: @ Valor Invest Globo
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