Adegas subaquáticas substituem terroir, oferecendo qualidade exclusiva dos vinhos, experiências dentro d’água.
Com o passar do tempo, os vinhos e espumantes envelhecidos desenvolvem um caráter único, assim como o ser humano, que envelhece e amadurece com o tempo. Esse processo, chamado de envelhecimento, permite que esses bebidas desenvolvam notas complexas e profundas, tornando-os ainda mais apreciados por os amantes de vinhos.
Imagine uma garrafa de vinho ou espumante envelhecido a mais de 10 anos, submersa nas profundezas do oceano. Lá, as condições de pressão e temperatura peculiarizam o processo de envelhecimento, tornando-o único e irrepetível. O envelhecimento é um processo natural que transforma os vinhos e espumantes em verdadeiras obras de arte. E, assim como os vinhos, o ser humano também envelhece e se enriquece com a experiência ao longo da vida, desenvolvendo uma perspectiva mais madura e profunda.
Desvendando o envelhecimento submarino: uma nova fronteira na produção de vinhos
A fascinante experiência do envelhecimento de bebidas em altas profundidades transcende a aura de aventura, despertando o interesse de produtores e especialistas de todo o mundo. A enologia está se aventurando no desconhecido, explorando o conceito de terroir em um ambiente subaquático, e o resultado promete ser revolucionário.
A hipótese de que o ambiente dentro d’água oferece condições únicas para o processo de amadurecimento das bebidas está ganhando força. A pouca luz, a pressão elevada, as temperaturas constantes e a baixa concentração de oxigênio podem aprimorar a qualidade dos vinhos e espumantes. Embora estudos científicos definitivos ainda não tenham corroborado essa teoria, vinícolas de todo o mundo estão embarcando em aventuras submarinas, lançando pequenos lotes de suas produções ao mar.
As garrafas resgatadas são verdadeiras joias, cobertas por conchas e sedimentos, o que as torna um atrativo único. ‘As garrafas emergem com uma história para contar’, diz Jean Carraro, proprietário da Videiras Carraro. Ele se uniu a Fabiano Müeller, da Vinícola Fama, em 2018, para experimentar o envelhecimento undersea. As primeiras remessas ficaram um ano a 12 metros de profundidade na costa catarinense. ‘Conforme fomos provando e analisando os vinhos e espumantes, vimos que havia muita diferença entre a maturação submarina e na cave. Com o passar do tempo notamos mudanças de cor, aroma e sabor’, conta Jean.
O envelhecimento undersea pode ser uma questão de tempo. Um ano sob a água equivale a três anos em adega terrestre. E os resultados são impressionantes. Os espumantes envelhecidos no fundo do mar custam cerca de R$ 1,9 mil, enquanto os tintos, com taninos mais macios e aromas intensificados, R$ 2,2 mil. Uma valorização de, pelo menos, 955% em relação às bebidas deixadas para amadurecer em terra firme.
A Miolo Wine Group também está lançando mão do envelhecimento undersea. Em 2016, a companhia gaúcha mergulhou 504 garrafas do Miolo Cuvée a 60 metros no mar da Bretanha, na costa da França. O projeto foi criado para celebrar a exportação de 100 mil garrafas do espumante para o mercado francês. ‘O lote foi retirado do mar em 2017 e depois veio para o Brasil, onde ficou na cave subterrânea da Miolo, no Vale dos Vinhedos’, conta Adriano Miolo, diretor superintendente do grupo.
A coleção Miolo Cuvée — Under The Sea foi recém-lançada e cada garrafa é vendida por R$ 3,5 mil. A cena vem se repetindo mundo afora. Na Grécia, a Gaia Wines usou o envelhecimento undersea, pela primeira vez, em 2011. Maturou o vinho branco Thalassitis, na profundezas do Mar Egeu. Nos Estados Unidos, a Mira Winery também está explorando essa nova fronteira, lançando pequenos lotes de suas produções no fundo do mar.
A enologia está se aventurando no desconhecido, e o resultado promete ser revolucionário. O envelhecimento undersea pode ser a chave para criar vinhos e espumantes de qualidade superior. A aventura está apenas começando.
Fonte: @ NEO FEED
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