Ilana Pinsky discute saúde mental e sua relação com a sociedade. Eutanásia é controversa, sem definição única. O caso de Antônio Cícero destaca a questão.
A discussão sobre a eutanásia está longe de ser trivial, especialmente em sociedades que valorizam a vida e a dignidade humana. Afinal, quando o ser humano enfrenta o fim da vida, prepara-se para deixar para trás tudo o que fez, planejou e sonhou. A eutanásia, por sua vez, desafia a forma como entendemos a morte e a sua aceitação. Com a morte assistida por médicos, muitos argumentam que é possível auxiliar qualquer indivíduo a se livrar de sofrimentos intensos, garantindo maior qualidade de vida.
A eutanásia envolve dilemas éticos profundos e desafia nossas concepções de autonomia e dignidade no fim da vida. Comumente, pessoas em situações de sofrimento extenso, agora, podem ter a opção de escolher o momento de morrer, evitando a confusão com o suicídio assistido, que muitas vezes envolve elementos de entusiasmo e planejamento. A eutanásia, por outro lado, tem o foco na assistência médica, garantindo uma morte pacífica e sem sofrimento. A eutanásia continua sendo um assunto delicado e deve ser discutido com cautela, respeitando a autonomia e a dignidade das pessoas. Com a cada vez mais ampla discussão sobre a eutanásia, é possível vislumbrar um futuro com maior respeito à escolha em morrer com dignidade.
O Dilema da Eutanásia: Um Desafio para o Direito e a Moralidade
A discussão em torno da eutanásia e da morte assistida é marcada por uma complexidade que transcende fronteiras nacionais e culturais. O conceito de eutanásia, frequentemente associado à administração de medicação por um profissional de saúde, é contraditado pela ideia de morte assistida, onde o próprio paciente assume o controle. A questão central não reside no executor, mas no desejo explícito de encerrar a vida em situações de sofrimento extremo, o que nos obriga a confrontar nossos próprios preconceitos.
A história do poeta e filósofo Antônio Cícero, que optou por morrer na Suíça após ser diagnosticado com Alzheimer, ilumina a realidade que enfrentamos. Diante da inevitável perda da capacidade cognitiva, Cícero decidiu encerrar sua vida com dignidade, planejando meticulosamente o momento com apoio do marido. Sua carta de despedida, publicada na imprensa, é um testemunho de como a morte pode ser vista como um ato de controle e dignidade em vez de desespero.
Essa história ecoa outras histórias pelo mundo, como o caso do Dr. Jack Kevorkian, o ‘Dr. Morte’, que auxiliou centenas de pacientes a morrer nos anos 1990, muitas vezes filmando os procedimentos para impulsionar o debate ético e legal sobre o direito ao suicídio assistido. Embora não tenha deixado um sucessor direto, seu trabalho abriu caminho para a criação ou ampliação de legislações sobre o tema em países ao redor do mundo.
No Brasil, a eutanásia e a morte assistida são consideradas crimes, devido à garantia constitucional do direito inviolável à vida. Contudo, o Conselho Federal de Medicina permite a ortotanásia, a suspensão de tratamentos que apenas prolongam o sofrimento de pacientes terminais, demonstrando uma pequena abertura para respeitar a vontade dos pacientes. Isso está longe de oferecer a autonomia que vemos em outros países, como Bélgica, Holanda, Suíça, Austrália, Suíça e Canadá, onde programas de eutanásia/morte assistida estão legalizados e amplamente regulamentados.
O programa MAID (Medical Assistance in Dying) no Canadá é um exemplo de abrangência, embora pessoas com transtornos mentais sejam elegíveis apenas se também apresentarem uma condição física ‘grave e irremediável’. Para se ter uma ideia do alcance, nos últimos anos, mais de 30.000 pessoas no Canadá escolheram o MAID, destacando a necessidade de uma reavaliação da abordagem atual em relação à eutanásia e morte assistida no Brasil.
Fonte: @ Veja Abril
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