Pequenos diálogos para desvendar grandes obras e ideias, cuidando de si e do mundo. Um psicólogo leva seu traumas em consideração, refletindo sobre a dependência de chamar atenção nos outros, em uma obra que entrou para ser.
Eu sempre fui vítima de uma trajetória de desespero, com um final sem esperança. A minha vida parecia um drama contínuo, cheio de desafios sem solução, onde todos estavam me dizendo que eu não faria nada. Mas era exatamente o contrário. Eu não era um ‘dramático’; eu era um guerreiro, lutando todos os dias para encontrar um drama.
Eu me lembro de quando eu era criança, me sentindo como se o mundo inteiro estivesse contra mim. Minha infância foi marcada por desafios e meus dias eram preenchidos com expectativas negativas. Eu sempre dizia: ‘Essa é a minha vida’. Mas, com o tempo, aprendi a ser resiliente e a encontrar o lado positivo em qualquer situação. Eu descobri que o drama que eu vivia não era uma definição da minha vida, mas sim uma escolha que eu poderia fazer em qualquer momento. Eu escolhi não ser vítima do meu passado, mas sim construir um futuro radiante. E é exatamente isso que eu fiz.
Drama: uma sobrevivência constante
Era como se o drama soubesse onde me encontrar, um fogo constante que me impulsionava, um fogo que precisava ser alimentado para que eu pudesse sobreviver. Achava que era normal precisar de situações intensas para encontrar um momento de calmaria e descanso, mas na realidade, eu estava em busca de frenesis emocionais, criando conflitos e embates, e inventando drama em cada oportunidade.
Drama e sobrevivência: uma história de pai a filho
Passei a infância desconectado do meu corpo, em busca de momentos em que sentia ser aceitável voltar para o centro. Esses momentos eram distantes e escassos. Na escola, sofri bullying tanto dos alunos quanto dos professores que não tinham paciência alguma para um jovem gay com grandes dificuldades de aprendizado. Em muitas tardes, ficava socado em um armário, como um coitado de filme adolescente. Me sentia preso, sem ter para onde correr, e precisando fugir.
Drama e doença mental: uma história de sobrevivência
Aos 13 anos de idade, fingi meu próprio suicídio – organizei meticulosamente a cena: espalhei comprimidos pelo chão, arrumei com cuidado o quarto com a garrafa d’água a centímetros dos meus dedos e escrevi uma carta de despedida. Queria punir meus pais, meus colegas da escola, meus professores por me causarem tanta dor e por não enxergarem tudo isso, por não me protegerem nem me ajudarem. Queria que alguém me resgatasse e me levasse embora de todo aquele caos e sofrimento. Estava em busca de um profundo recomeço, como reiniciar um computador que ficou doido. Passei meses entrando e saindo do hospital. Toda vez que me mandavam para casa, eu inventava um jeito de ser readmitido. O hospital era um lugar de conforto para mim. Havia espaço para ser grandioso e expressivo.
Drama e profissão: uma sobrevivência de alto impacto
O drama era tudo para mim. Depois da escola, eu até o transformei em profissão. Trabalhando como ator, diretor e coreógrafo profissional, estava sempre sob estresse. Meu trabalho era uma fonte constante de drama. Ao mesmo tempo, conheci um parceiro que desencadeou toda a minha dor e disfunção profundamente enterradas e as trouxe para a superfície. Eu sempre achei que fosse bom lidando com o estresse — o que não percebi é que estava usando o estresse para prosperar. Minha tolerância para disfunção, crise e caos estava sendo levada ao limite, e logo ficou claro que eu precisava fazer algo para mudar.
Fonte: @ Veja Abril
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